Ashtanga Yoga e Gravidez

A maternidade é uma fase muito exigente e de mudanças físicas e psíquicas na vida de uma mulher.

Durante a minha gravidez pratiquei yoga todos, ou quase todos, os dias. Muitas amigas me alertaram para o facto do Guruji, Sir Pattabhi Jois, não recomendar a prática de Ashtanga Yoga durante o primeiro trimestre de gestação devido ao risco de aborto espontâneo como nos casos de gravidez de alto risco. Mas, como em tudo, nós devemos ser os atores principais da nossa vida e avançar conscientemente com as nossas escolhas e decisões. Assim, e como o yoga faz parte de mim e da minha vida, optei por praticar. Para tal, apoiei-me no livro Yoga Sadhana for mothers da Sharmila Desai & Anna Wise, ajustando as posturas do Ashtanga Yoga às necessidades da gravidez. É claro: tive de modificar algumas das posturas e adaptar outras da sequência da 1ª serie. A 2ª serie não é recomendada, embora eu a tenha praticado cuidadosamente durante os dois primeiros meses, tendo em conta que era Inverno e pude controlar os níveis de aquecimento do meu corpo.

A maternidade é uma fase muito exigente e de grandes mudanças físicas e psíquicas na vida de uma mulher. Foi no Ashtanga Yoga “modificado” que encontrei o meu apoio para todas as alterações pelas quais estava a passar. Ainda assim, faltava-me algo, faltava-me a minha “prática” de yoga. Por isso, passei a incluir no meu yoga diário a prática do desapego, ou seja, abdiquei dos saltos, dos backbends, das pernas atrás da cabeça, do show-off do yoga, que também faz parte (a diversão não tem de acabar apenas porque nos estamos a conectar com o nosso corpo, pelo contrário, devemos sempre associar diversão à nossa vida, ser aquilo a que chamamos “a nossa criança interior”). No turbilhão de emoções que sentia, a minha prática de yoga diária não estava a ser suficiente e não estava a conseguir desfrutar das alterações que o meu corpo e a minha vida estavam ambos a vivenciar. Assim, decidi mudar de estilo de yoga, e passei a praticar a série da lua do Matthew Sweeney. Esta série, que eu já praticava em dias de lua, menstruação, lesão, ou quando me sentia mais cansada, permitiu-me respirar, escutar e sentir o meu corpo. É uma série mais virada para dentro, para o interior, para a regeneração e cura do corpo. Esta nova abordagem de yoga ajudou-me não só a viver tranquilamente a minha gravidez, comunicando com a minha bebé, mas também a preparar o parto e o pós-parto. Passei a respirar de outra forma (menos diafragmática e mais abdominal), a soltar e a contrair o pavimento pélvico (as praticantes de Ashtanga Yoga têm o períneo frequentemente mais tenso devido à respiração ujjai), e assim descobrir novos músculos do meu corpo, até aqui inexplorados. Também passei a beber mais água durante a minha prática e a comer antes de ir para o tapete – a hidratação e a nutrição são condições sine quo non para o corpo de uma grávida.

Quase a regressar ao tapete, após o período de quarentena necessária para os órgãos voltarem ao sítio (que acaba esta semana) tenciono voltar ao “meu” estilo de yoga, Ashtanga Yoga, do qual tanto me custou abdicar. Ainda não sei bem como o vou fazer, uma vez que tenho um novo corpo e um pequeno ser à minha responsabilidade que, neste momento, ainda é uma extensão do meu. A vida é assim mesmo, para abraçar novos desafios temos de criar espaço, e para isso há que limpar o que já não nos traz nada de novo para viver novas emoções e seguir em frente.

Escrevo este artigo como forma de fazer um certo balanço sobre algumas das mudanças que sofremos. A vida está em permanente mutação e cabe-nos a nós adaptarmo-nos às suas várias fases, ser pacientes e gratos pelo que o universo nos traz.

Abro os braços, fecho os olhos, inspiro e expiro, sinto a minha respiração, deixo fluir o que vem até mim e despeço-me do que já não me acrescenta nada – It’s a new begin!

Leave a comment

Deixe uma resposta

Your email address will not be published. Required fields are marked (required)