Entrevista a uma yogi que viveu na cidade – Marta Metrass

A Marta pertence ao grupo de pessoas em que a prática de yoga mudou totalmente a sua vida.

Hoje apresento-vos uma grande amiga, Marta Metrass. A Marta pertence ao grupo de pessoas em que a prática de yoga mudou totalmente a sua vida. Uma volta de 180º!

Conheci a Marta nas aulas de yoga, na altura era casada, com um filho pequeno, diretora de pós-produção, muito social, falava de forma acelerada e stressada. Recordo-me dos seus desabafos acerca do seu ritmo de vida alucinante, o curioso é que ainda assim era uma devoradora de livros, facto que nos aproximou bastante (sendo que eu lia um livro por mês e a Marta “papava” uns 3). A química foi instantânea e, durante um curso de yoga que frequentámos ao domingo, começámos a combinar pequenos-almoços domingueiros, onde trocávamos as nossas vivências e confissões. Vi na Marta uma pessoa muito energética e uma romântica à moda antiga. Adorava e continuo a gostar bastante das nossas conversas. É daquelas pessoas que me enche o coração!!

Um dia, disse-me que tinha decidido mudar de vida. Os seus planos eram ‘apenas’ pegar na sua família, mudar-se para uma ilha na Tailândia, e ter uma filha por lá… A minha primeira reacção foi rir-me e disse-lhe: “És louca!”. O facto é que a louca mudou-se para Koh Panghan, tirou um curso de yoga, começou a dar aulas de yoga e de dança (a sua formação académica), abriu um restaurante de hambúrgueres gourmet e teve um filho. Passados 2 anos, mudou-se para Bali. Está grávida, de mais um rapaz (suspeito que continuará a ter filhos pelo mundo, até que engravide de uma menina… ☺), e é, para mim, uma das yogis do mundo que mais inspira, reflexo disso são os inúmeros retiros de yoga que ensina, onde o focus é ‘opening heart’.

Marta, é caso para dizer quem te viu e quem te vê…

  1. Quando vivias em Lisboa, na rotina da ‘vida normal’, como era e como é que te sentias na tua vida?

Durante anos adorei a minha vida ‘louca’ em Lisboa. Vivia para o trabalho e adorava o que fazia. Era directora de pós-produção de publicidade. Não tinha horários para nada e nunca sabia a que horas ia chegar a casa ou se ia mesmo chegar a casa, mas toda essa adrenalina me enchia de energia e quanto mais fazia, mais parecia que conseguia fazer.

  1. Como era a tua prática de yoga na tua vida citadina?

O Yoga era o meu escape. Levantava-me as 05h30 da manha para ir praticar antes do telefone começar a tocar. Era o único momento do dia que era realmente meu. Praticava, saía feliz a contemplar a luz da manhã na cidade, tomava o pequeno-almoço e aí sim estava pronta para enfrentar o dia.

  1. O que mudou realmente na tua vida após teres descoberto o yoga?

Tudo! Mudou tudo! Aquilo que começou por ser um momento do meu dia 4 vezes por semana, tomou conta da minha vida. Mudou a minha maneira de ver a vida, de me relacionar com os outros e comigo mesma, a minha alimentação. Mudou mesmo tudo. Claro que não foi de um dia para o outro. A sementinha foi plantada e foi crescendo. Quando realmente nos sentimos bem e plenos, não queremos que isso seja assim só duas horas por dia, 4 vezes por semana, queremos que seja sempre. Começamos a questionar o que realmente faz sentido. E quando tentamos levar esse bem estar a todos os momentos da nossa vida, há muita coisa que deixa de fazer sentido. Há como que uma consciência corporal e mental que nos faz querer tomar as decisões que são boas para nós e para a nossa saúde e não deixarmo-nos levar impulsivamente para momentos de prazer momentâneo que depois nos custam horrores a recuperar.

  1. A dado momento a tua vida volta a mudar… Achas que foi, uma vez mais, uma consequência de teres o yoga?

Claro que sim. Como dizia antes a sementinha estava plantada. Passei a ter consciência que não ter tempo para mim e para cuidar de mim era mau. O trabalho deixou de ser a  única coisa que me dava vontade de levantar da cama todos os dias. E abri os olhos para o resto. Percebi que não tinha tempo para ver o meu filho crescer e que estava a perder momentos preciosos que não se repetiam mais. Nesse dia houve um clique na minha cabeça e percebi que precisava de mudar. Seguiu-se uma busca para perceber o que realmente era importante e o que queria fazer da minha vida. Daí a decisão de mudar de país para uma vida tranquila onde o ter tempo para mim e para os meus fosse a coisa mais importante. Um ano depois, vendemos tudo e mudamo-nos todos para Koh Phangan na Tailândia.

  1. A Cidade tornou-se pequena?

A cidade tornou-se grande e impessoal. Viver numa ilha abre muitas perspectivas. Não há muito para fazer. Tens de realmente estar contigo próprio sem grandes distrações. Isso é tão bom. Deixas de ser hiper-estimulado por tudo e mais alguma coisa e és mesmo obrigado a estar contigo mesmo em paz. A mente acalma mesmo. Sou hoje uma pessoa dez vezes mais calma do que era. Chega a ser engraçado, quando as pessoas chegam de fora para férias, ver o nível de stress que trazem sem sequer terem noção. Para nós salta à vista, mas para elas é normal. Precisam sempre aí de uns 5 dias para largar esse stress que trazem agarrado ao corpo e algumas pessoas  não conseguem mesmo.

  1. Arrependimentos? Ganhaste o Mundo?

Nenhum. Arrependimento teria se não tivesse feito nada para mudar a minha vida e me deixasse ficar infeliz, a lamentar-me e a queixar-me como vejo imensa gente fazer anos e anos a fio. Costumo dizer sempre que o difícil foi tomar a decisão. Depois disso é uma questão de produção. De descobrir qual a melhor maneira de fazer e pôr tudo a andar. Fácil. E depois de mudar de vida uma vez, podes mudar quantas quiseres. Já sabes que é possível e que ainda que não seja fácil e que tenhas momentos difíceis em que questionas muita coisa, vale sempre a pena. E a prova disso é que em Novembro quando viemos a Bali de férias, (lugar que tem um poder magico para nós por ter sido a primeira viagem com o meu marido enquanto namorados e onde o pedi em casamento), assim que pusemos o pé fora do avião e sentimos o cheirinho a incenso que caracteriza essa ilha maravilhosa, olhámos um para o outro e dissemos: “ Vamos mudar-nos para Bali”. E assim foi, em vez de estarmos um mês de férias, procurámos escola, alugámos casa e comprámos motas. Quando voltamos a Koh Phangan, vendemos tudo outra vez e em três semanas estávamos de volta a Bali para seguir, mais uma vez, um sonho rumo à felicidade.

  1. Entretanto, passado 4/5 anos, o teu marido começou a praticar yoga. Presumo que ele tenha deixado de chamar o yoga de ‘teu amante’. Consideras que é mais importante para ele, para ti ou para a relação a prática de yoga?

O meu marido só começou a fazer Yoga agora muito recentemente. Já tinha tentado umas duas vezes, mas para ele era uma tortura e ainda não estava preparado para ultrapassar esse primeiro impacto e começar a sentir os benefícios. Ele sempre foi de fazer muito desporto, mas tudo o que implicasse stretching, fugia a sete pés. Fez duas semanas seguidas de Yoga comigo antes de irmos a Portugal e foi incrível ver a transformação no corpo dele e a felicidade na cabeça. Mas como tudo, o Yoga implica persistência, vamos ver se o Yoga se “agarra” a ele como se ‘agarrou’ a mim!

  1. Em relação à tua alimentação, passaste a ser vegetariana, o que te levou a mudar?

Não sou fundamentalista, mas sou vegetariana e para mim já não faz sentido de outra maneira. Os meus filhos comem tudo. Mas para mim, depois de ter experimentado a alimentação vegetariana e me sentir tão mais leve, não faria sentido dar um passo atrás. Tento escolher aquilo que como, não de acordo com regras mas de acordo com aquilo que me faz sentir bem. Há muita coisa que nos dá aquele prazer momentâneo mas que depois nos faz dormir mal, sentir pesados e chega a um ponto que estamos tão atentos e presentes no nosso corpo que temos essa percepção e a opção de escolha passa a estar muito mais presente. O yoga deixa de ser só a pratica física de asana e a meditação quando estamos no tapete, sendo o nosso dia-a-dia. Claro que quando vou jantar bebo um copo de vinho e se for sair à noite bebo bastante mais que isso e às vezes preciso de comer bataas fritas e como, mas são coisas que tento fazer pontualmente e que deixaram de fazer parte da minha rotina diária. Quando as faço, tento fazer sem culpa e aproveitar, não sou nenhum monge ermita que vive numa gruta, sou humana e gosto dos prazeres da vida. Mas muitas vezes penso como me vou sentir no dia a seguir e escolho as vezes em que realmente vai valer a pena.

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