Entrevista a um yogi na cidade – Frederico Azevedo (‘Kiko’)

Hoje inauguro uma rubrica no blog – entrevistas a yogis que praticam yoga na cidade.

Hoje inauguro uma rubrica no blog – entrevistas a yogis que praticam yoga na cidade.

Para começar esta rubrica, convidei um dos meus melhores amigos, Frederico Azevedo (‘Kiko’), foi através dele que conheci o Ashtanga Yoga, e desde então que continuo apaixonada por esta prática. Conheci o Kiko num jantar de colegas de pós-graduação, ele era o cozinheiro (falou-me logo ao coração), e ficámos ali à conversa. Para além de saber cozinhar, o Kiko fazia yoga. Nessa altura andava desmotivada com a prática de yoga que fazia, queria algo mais, e até ponderava desistir do yoga e procurar outra ‘actividade física’. Ele falou-me num amigo que tinha inaugurado um estúdio de yoga, fiquei bastante interessada, beca-beca e combinámos uma aula de yoga. O encantamento perdura até aos dias de hoje.

O Kiko é perfeccionista, bon vivant, adora estar rodeado de amigos, excelente anfitrião, mas a melhor definição talvez seja, é um epicurista!

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Uma entrevista honesta e directa onde nos conta, ponto por ponto, como organiza a sua vida, e os mil hobbies que tem e como os vive de forma intensa. Profissional de escritório, com um negócio próprio que partilha com os 2 irmãos gémeos (tem ainda a particularidade de ser trigémeo), vida familiar estável, exímio cozinheiro, surfista a tempo inteiro, fundador da tertúlia do puros e ainda tempo para praticar yoga e meditação! Fala-nos também do seu estilo pessoal, da forma como é apaixonado pelas coisas que faz e partilha como gere essas boas práticas diárias na selva da cidade.

  1. Como descobriste o yoga?

R: Descobri o yoga quando andava num ginásio. As aulas de yoga eram dadas numa sala totalmente envidraçada e era a primeira aula da manhã. Para ir para os balneários passava sempre por essa sala e reparava que os praticantes (quase sempre os mesmos) ficavam em posturas estranhas durante bastante tempo. Pensei que algo de muito especial teria de haver naquela actividade para que todas aquelas pessoas tivessem a enorme disciplina para se estarem a “espreguiçar” às 7.00 num ginásio. A curiosidade fez-me ir a uma aula, que depois vim a saber que era de Hatha Yoga, e aí comprovar que algo nesta “estranha” actividade não só era especial mas também altamente desafiante em termos físicos.

Decidi começar a praticar yoga em complemento do trabalho de ginásio e demorou pouco tempo a abandonar o último e me dedicar totalmente ao yoga.

No ginásio conheci 2 professores, o Manel Fernandes e o Nuno Vintém que me mostraram pela primeira vez o Ashtanga, uma prática mais dinâmica e com flow em que a sequência de posturas são coordenadas com a respiração, foco no olhar e contracções de músculos internos.

Fiquei muito entusiasmado com esta prática e decidi investir mais tempo em descobri-la, foi assim que comecei a praticar no shala do Nuno Vintém, depois no do Gonçalo Alcântara e na Casa Vinyasa. Finalmente decidi começar a praticar sozinho em casa, achei que esse era o verdadeiro desafio e me levaria a uma prática mais profunda em termos de consciência. Actualmente, pratico em casa e faço esporadicamente uns drop-in’s em alguns shalas.

  1. Achas que praticando yoga ajuda a enfrentar as adversidades da vida? Ou também ajuda a expandir/apreciar as coisas boas?

R: Claro que sim. No meu caso quando pratico yoga de manhã sei que o meu dia vai correr melhor, quer seja porque estou mais desperto e atento ao que me rodeia, quer seja pela sensação de dever cumprido. Começo o dia logo com um saldo positivo e isso contagia as minhas acções e creio que as acções dos outros que se cruzam comigo.

A prática do yoga ajuda-nos a ter uma maior autoconsciência e naturalmente isso vai-se reflectir em todas as dimensões da nossa vida, incluindo a estar mais presentes para desfrutar dos prazeres da vida.

  1. O que mudou desde que começaste a praticar yoga?

R: Creio que a maior transformação que senti quando comecei a praticar yoga foi o facto de estar mais atento a mim e aos outros. A prática do yoga leva-nos a uma consciência, não só corporal mas também emocional. Quando acordamos não estamos sempre iguais, por vezes estamos cansados, outras vezes enérgicos, umas vezes desanimados, outras vezes motivados, umas vezes doridos e outras em que tudo é fluido e fácil. O grande desafio é de, independentemente do estado em que estamos, nos deixarmos levar pela respiração e fazer com que durante aqueles minutos (ou horas J) nos entreguemos de corpo e alma ao que estamos a fazer. Geralmente o resultado final é estarmos bem melhor do que quando começamos, mais alegres, mais activos, mais motivados, mais vivos e isso nota-se.

  1. Yoga e desporto podem ser enquadrados na mesma categoria?

R: O Yoga é também uma actividade física mas não fica apenas por aí. Na verdade não existe um objectivo directo, tal como nos desportos, em que é necessário, por exemplo, colocar uma bola na baliza do adversário. No yoga cada pessoa tem o seu próprio objectivo, e esse objectivo pode mudar de dia para dia e às vezes, mesmo no próprio dia. Seria impossível conceber um desporto que mudasse as regras a cada instante e por cada jogador. Por isso não acho que seja um desporto, mas acho que poderão haver pessoas que apenas queiram praticar yoga para estarem melhor fisicamente ou se sentirem mais flexíveis, é um objectivo como outro qualquer, mas o importante é saber que há mais para além da dimensão física.

  1. Em relação à tua alimentação o que mudou?

R: No meu caso o Yoga não mudou a minha alimentação. Não me tornei vegetariano, nem faço jejuns prolongados. Tenho alguns cuidados com alimentação mas que se prendem por querer ter bem-estar físico. Durante a semana tento ser bastante espartano, evitando alguns alimentos, mas ao fim de semana não tenho restrições e aproveito para apreciar as coisas boas da vida e comer é uma delas.

  1. Quem pratica yoga tem de ser vegetariano?

R: Não creio, poderão existir pessoas que queiram optar por esse caminho quando começam a praticar yoga. O yoga também é uma pratica de limpeza e poderão haver pessoas que sintam que deverão deixar de comer carne. Acho que é uma opção absolutamente pessoal e ideológica.

  1. Como consegues gerir a tua vida profissional e pessoal, os teus infinitos hobbies, e ainda ter tempo para praticar yoga?

R: Isso não é tarefa fácil. Costumo dizer a brincar que sou o homem das 1001 inconsistências. Alguns hobbies que tenho estão nos antípodas do yoga, como apreciar vinhos ou charutos.

Acredito que na vida temos de ter um equilíbrio e o maior barómetro que temos é a felicidade que obtemos com aquilo que fazemos. Se estivermos sempre a comer coisas deliciosas, provar os melhores vinhos, aquilo que nos dava tanta felicidade começa a ser banal, por outro lado se nos tornarmos em eremitas e praticarmos yoga com fanatismo, só comermos coisas saudáveis e enchermos a nossa vida de regras, o resultado é estamos a abdicar de muitas coisas que nos fariam felizes. Por isso acredito que ter hobbies diversificados é importante, é desejável mas dá trabalho J.

  1. O yoga é para a vida?

R: O Yoga é para a vida!!!  Já passei por muitos momentos enquanto praticante de yoga, momentos de grande entusiasmo, praticas diárias e muitas horas por semana e momentos de alguma desmotivação em que não praticava de todo. A verdade é que volto sempre a praticar porque me faz falta e me faz sentir centrado e de bem com a vida. Se temos essa enorme ferramenta ao nosso alcance porque não desfrutar dela?

  1. Sabendo que o surf é a tua paixão, posso dizer que o yoga é o teu amor?

R: Sim pode-se dizer isso… O surf, da mesma forma que o yoga, é uma actividade solitária. Dependemos de nós e das ondas, no caso do yoga só dependemos de nós.

O surf é algo explosivo, com emoções fortes, com risco e adrenalina. O yoga é fluído, sereno e desafiante. São actividades bastante diferentes com sensações distintas, mas que podem ser absolutamente complementares, tal como a paixão e o amor.

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